Confira abaixo uma entrevista feita pelo Tesoureiro do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal, com a Dra. Kelly, Enfermeira Obstetra da Casa de Parto de São Sebastião.
Dr. Paulo: Para quem não conhece… Comece nos falando sobre o que é a DHEG.
Dra. Kelly: A DHEG pode ser definida como uma manifestação clínica e laboratorial resultante do aumento dos níveis pressóricos de uma gestante, previamente normotensa, a partir da 20ª semana de gestação, desaparecendo até seis semanas após o parto. Lembrando que a DHEG pode ainda ser subdividida como pré-clâmpsia, eclâmpsia, síndrome HELLP e pré-eclâmpsia superajuntada e dependendo da forma como se apresenta pode causar alterações renais, cardiovasculares, hepáticas, cerebrais, sanguíneas, hidreletrolíticas, no sistema renina-angiotensina-aldosterona, uteroplacentárias.
Dr. Paulo: Quando pode ser caracterizada a DHEG na gravidez?
Dra. Kelly: De acordo com o Consenso Brasileiro de Cardiopatia e Gravidez (2004), caracteriza-se HAS na gravidez quando a pressão arterial estiver maior do que 140 x 90mmHg, em duas tomadas com intervalo de 4h, em repouso, ou quando houver aumento maior que 30mmHg na PAS e/ou aumento maior que 15mmHg na PAD, em relação a conhecidos níveis prévios à gestação.
Dr. Paulo: O agravamento da doença se difere de grávida para grávida, ou é o mesmo para todas?
Dra. Kelly: Existem fatores que fazem com que uma mulher grávida tenha mais riscos que outras de desenvolver DHEG, dentre eles podem ser citados: primeira gestação; gestante com menos de 16 anos (adolescente); gestante com mais de 30 anos; obesidade; raça negra; doenças prévias à gestação (HAS, diabetes, doenças renais ou lúpus); história de familiares com pré-eclâmpsia ou eclâmpsia; ter apresentado pré-eclâmpsia na gestação anterior; gestação gemelar; gestação com parceiros diferentes; gestante com aumento da massa trofoblástica; má adaptação circulatória.
Dr. Paulo: A DHEG pode ser considerada uma das piores complicações na gravidez?
Dra. Kelly: A DHEG é a complicação mais freqüente na gestação e constitui, no Brasil, a primeira causa de morte materna, principalmente quando se instala em uma de suas formas graves como a eclâmpsia e a síndrome HELLP. Para complementar, o Consenso Brasileiro de Cardiopatia e Gravidez (2004) revela que, a incidência de DHEG na gestação é de 10%, independentemente de sua etiologia, sendo considerada a primeira causa de mortalidade materna no ciclo gravídico puerperal, chegando a 35% de óbitos, decorrentes de complicações.
Dr. Paulo: Quais são as causas da DHEG?
Dra. Kelly: A etiologia da DHEG permanece desconhecida, porém alguns fatores foram propostos, tais como aspectos imunológicos, predisposição genética, falha na placentação, anormalidades na coagulação, má adaptação circulatória, aumento da resistência vascular por constrição arteriolar generalizada, aumento na produção e na relação do tromboexano A2/PGI2 (prostaciclina), aumentando a vasoconstrição, a agregação plaquetária, a atividade uterina e a redução do fluxo sanguíneo uteroplacentário.
O diagnóstico é clínico e laboratorial. Deve-se avaliar a pressão arterial, presença de edema generalizado (parede abdominal, pernas, face, região lombossacra e mãos), aumento de peso acima de 1000g por semana, proteinúria com valores iguais ou maiores a 300mg de proteína na urina coletada durante 24h.
Dr. Paulo: Como funciona o tratamento da doença?
Dra. Kelly: O tratamento clínico depende do grau da doença. Na pré-eclâmpsia leve, é a terapêutica conservadora até o concepto atingir a maturidade de 37 semanas, avaliando a paciente de forma clínica e laboratorial, e a vitabilidade fetal. Qualquer forma clínica de DHEG, com o feto maduro > ou = a 37 semanas, obriga a interrupção da gravidez, pois a DHEG só se cura com o parto. Na pré-eclâmpsia grave, e na eclâmpsia, antes de interromper a gestação, o quadro clínico deve ser estabilizado, demorando em torno de 4 às 6h. A pré-eclâmpsia grave, eclâmpsia e estado de sofrimento fetal, indicam que a gestação deve ser interrompida, independente da idade gestacional.
No tratamento deve-se levar em consideração a idade gestacional e a gravidade da DHEG, para que se escolha a conduta mais adequada. O tratamento definitivo é a interrupção da gestação, entretanto algumas vezes é possível aguardar o amadurecimento fetal para realizar o parto.