Os recentes casos de violência contra profissionais da Enfermagem voltaram a causar medo e acederam o alerta sobre a necessidade de melhorar a segurança nas unidades de saúde no Distrito Federal. Após o caso reportado semana passada no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), o Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) voltou a receber denúncias. Segundo o relato de uma profissional da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas, no dia 3 de junho houve um episódio violento em seu local de trabalho.
Ela conta que o paciente deu entrada na UPA por volta das 1h30 da madrugada, já estava bem agitado e solicitando medicações controladas. Ele foi atendido pelo médico, que prescreveu diazepam, soro fisiológico e algumas medicações endovenosas. Quando os profissionais foram fazer o acesso periférico, o paciente foi extremamente agressivo com a equipe, reclamou que havia apenas uma ampola de diazepam, que necessitava de mais pois somente uma não faria efeito e, caso não recebesse o restante da medicação que ele queria, os profissionais iriam “pagar” pelo feito.
A equipe pediu para que o paciente se acalmasse, e que só poderiam ministrar a medicação prescrita pelo médico. Pediram para que ele retornasse ao consultório caso a medicação não fosse o suficiente. O paciente continuou extremamente agitado, tentando intimidar os profissionais e agredindo verbalmente a todos.
Ele abordou inúmeros profissionais em atendimento, ameaçando e intimidando, ação que se prolongou até às 6h30 da manhã. A profissional que relatou o caso disse que tentou interferir e acalmar o paciente, verificou o prontuário, tentou prestar atendimento, mas não encontrou outra solução que não fosse chamar a segurança do estabelecimento. Após o segurança chegar, o paciente se descontrolou mais ainda, arrancou os acessos do corpo jogando sangue por toda a sala, saiu em direção ao consultório médico e gritou para todos ouvirem que, se o médico não prescrevesse mais remédios, ele voltaria à sala de medicação e mataria toda a equipe que estava atendendo.
Com toda essa agressividade, os profissionais foram obrigados a chamar a polícia. O segurança da UPA ficou rondando o paciente até a polícia chegar. Os profissionais relataram a situação e os policiais tentaram abordá-lo, mas sem sucesso na tentativa. O paciente foi levado à delegacia e duas profissionais acompanharam para prestar queixa e registrar o boletim de ocorrência. Na delegacia, ele continuou ameaçando as profissionais e dizendo que elas iriam pagar, principalmente quem ligou para a polícia.
No mesmo dia, pela tarde, uma das profissionais recebeu várias ligações e mensagens da gestão da UPA informado que o agressor já tinha retornado algumas vezes à unidade atrás dela, ainda agressivo, gritando e ameaçando, além de ter pegado o documento do boletim registrado que continha as informações pessoais das profissionais, endereço residencial, telefone, RG e CPF. Chamaram novamente a polícia, mas ele apenas foi retirado do local.
A profissional que relatou o caso disse ter encontrado o agressor novamente na UPA no dia 07 de junho, pediu para a gerência tirar ela da porta e classificação de pacientes, para que ela ficasse menos exposta, mas o pedido não foi atendido. Pediu ajuda à administração da UPA e a orientação foi que a mesma fizesse um registro na ouvidoria. A polícia ainda relatou o histórico criminal do agressor, o que amedrontou mais ainda a profissional, que não está conseguindo realizar suas atividades cotidianas por medo de ser encontrada.
Em 2022, o Coren-DF fez um levantamento sobre o índice de violência contra os profissionais de Enfermagem no Distrito Federal, e os números foram alarmantes. De acordo com os dados, dos 834 trabalhadores que responderam o questionário, 644 já sofreram humilhação, 589 foram xingados, 488 foram ameaçados, 85 foram empurrados, 40 levaram tapas, 26 levaram socos, 9 sofreram puxões de cabelo e 135 sofreram outros tipos de agressões.
Agora, em 2023, a violência voltou a assombrar a categoria. A falta de segurança tem deixado pessoas em risco nas unidades de saúde. É urgente e necessário investir em segurança, monitoramento e medidas preventivas para garantir o bem estar dos profissionais e da população. A Enfermagem é a profissão que cuida e não deve continuar exposta à violência.