Quem passa diariamente pela Estação Central do Metrô, na Rodoviária de Brasília, notou algo diferente nesta semana. Uma enfermeira gigante está instalada no meio do saguão, para chamar a atenção da população para a realidade dos profissionais de Enfermagem, que lutam diariamente para salvar vidas e estão sendo massacrados por jornadas exaustivas, baixos salários, excesso de responsabilidades e condições precárias de trabalho.
A obra faz parte da campanha #AbraceaEnfermagem, desenvolvida pelo Conselho Federal e pelos Conselhos Regionais de Enfermagem, para sensibilizar a sociedade sobre a importância de cuidar de quem cuida. “A situação de enfermeiros, técnicos e auxiliares é insustentável no Brasil. Os nossos profissionais estão morrendo por causa das péssimas condições de trabalho. Enquanto isso, projetos que poderiam resolver problemas graves e melhorar a nossa vida estão parados há 10, 20 anos no Congresso Nacional. Isso tem que mudar”, considera o presidente do Coren-DF, Dr. Marcos Wesley.
As pessoas que passam pelo Estação Central podem assinar a enfermeira gigante para demonstrar apoio aos profissionais da Enfermagem. Foi o que fez a auxiliar de serviços gerais Nilvete da Conceição Batista, de 53 anos, que ficou impressionada com o tamanho da boneca. A instalação tem 2,1 metros de altura. “Esse pessoal é muito importante. Nunca vou esquecer do cuidado e do carinho que tiveram com a minha mãe, quando ela precisou fazer uma cirurgia na barriga. Tem que apoiar eles, né? Não dá para largar eles abandonados no hospital, não”, disse a moradora de Samambaia.
Morador da Ceilândia, o auxiliar administrativo Yago Barbosa da Silva, de apenas 23 anos, também parou para ler os materiais informativos da campanha #AbraceaEnfermagem, que ficam no totem, ao lado da boneca. “Eu não sabia que a realidade desses trabalhadores era essa. Muito triste saber que quem trabalha para manter o sistema de saúde funcionando tem uma vida tão difícil. Os políticos precisam olhar pra essa situação. Vou publicar uma foto com a hashtag nas redes sociais, para demonstrar meu apoio a essa campanha”, disse.
A enfermeira gigante fica no Metrô de Brasília até o dia 2 de dezembro. Depois, ela será levada para a Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional, para mostrar à classe política a urgência de atender as demandas da Enfermagem, para garantir o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e o atendimento integral, universal e gratuito da população. “Os enfermeiros representam mais da metade dos trabalhadores da saúde e estão na linha de frente do combate à Covid-19. A enfermagem merece mais que aplausos. É preciso ter condições dignas de trabalho e de vida”, frisa o presidente do Cofen, Manoel Neri.
Dados do Observatório da Enfermagem mostram que, somente no DF, 1.537 profissionais da Enfermagem já foram infectados e 16 morreram por causa do novo coronavírus. No Brasil, já são 43.446 casos registrados e 460 óbitos entre profissionais de Enfermagem. Os números podem ser ainda maiores, pois falta testagem e há subnotificação de casos. “As nossas condições de trabalho, que já eram difíceis, se tornaram ainda piores com a pandemia. Até agora, apesar do grande apoio popular que recebemos, das palmas e tudo mais, nada mudou. A situação é dramática e precisamos de atenção”, insiste o presidente do Coren-DF, Dr. Marcos Wesley.
Desde o início da pandemia, o Coren-DF realizou 137 fiscalizações operativas e 470 inspeções analíticas, com base em provas e documentos, para apurar 419 denúncias envolvendo 161 instituições públicas, 137 instituições privadas e 13 instituições militares. Na maioria dessas ações fiscalizatórias, foi constatada a falta ou fornecimento irregular de EPIs, escassez de medicamentos essenciais, sobrecarga de trabalho, déficit de profissionais, deficiências estruturais e outras irregularidades que colocam em risco a integridade da Enfermagem.
Para reduzir os riscos de infecção entre os profissionais de Enfermagem, o Coren-DF entregou a doação de 28.360 máscaras a enfermeiros, técnicos e auxiliares de 195 instituições de saúde, que estavam sofrendo com a falta ou com o fornecimento de EPIs de má qualidade. Esse trabalho foi determinante para preservar vidas de trabalhadores, principalmente, nas situações mais críticas. As máscaras foram adquiridas pelo Cofen em licitação emergencial. “Agora, é necessário fazer mais e isso depende da classe política. É necessário votar os projetos da Enfermagem que tramitam no Congresso Nacional”, finaliza Dr. Marcos Wesley.