Em uma emergência lotada, onde falta o básico, um médico tem de escolher quem atender primeiro: uma criança, um policial, ou um bandido, todos gravemente feridos. Esse é o ponto de maior tensão do filme “Sob Pressão”, baseado no livro de mesmo título lançado em 2014 pelo cirurgião torácico carioca Márcio Maranhão (Foz Editora). O filme, dirigido por Andrucha Waddington, está em cartaz desde 17 de novembro.
Depois de passar 20 anos trabalhando em emergências de hospitais municipais e estaduais, Maranhão pediu demissão do poder público por não aguentar trabalhar no que define como cenário de guerra. “Os obstáculos aparecem na falta de condição e leitos, na inexistência de um dreno torácico, de um fio, de um anestesista. Isso desgasta, cansa, gera indignação e inconformismo” desabafa.
“Fui vencido pelas adversidades. Não dá para permanecer muito tempo lutando contra essa situação. É angustiante demais. Eu chegava ao hospital e não havia ferramentas básicas para uma operação. Às vezes, havia dois pacientes, mas só dava para atender um. O sistema praticamente o convida a sair. Você começa a fazer concessões violentas e perigosas. É doloroso”, lamenta o cirurgião, que hoje trabalha apenas na rede particular.
Para dirigir o filme, Andrucha Waddington passou muitas horas em hospitais e também acompanhou Maranhão em seu trabalho. “É bonito ver o amor que o Márcio tem pela profissão, embora o livro também seja uma carta de demissão. Mas, acima de tudo, a história trata da luta pela saúde”, avalia o diretor. Waddington explica que o filme mostra a coragem e determinação dos médicos e a guerra diária que enfrentam. “É um drama, mas com ação”, adianta.
O longa vai mostrar o dia de um hospital público, centralizando a história em Evandro – um médico machucado por uma tragédia pessoal que dedica sua vida à medicina – interpretado por Julio Andrade. Na trama, as penosas escolhas diárias desses profissionais e as consequências que podem vir com elas. Evandro está prestes a terminar um cansativo plantão, quando chegam à emergência, ao mesmo tempo e gravemente feridos, um criminoso, um policial e uma criança. Ele e sua equipe precisam decidir quem salvar primeiro, levando em conta as condições precárias e falta de recursos e equipamentos do hospital.
Leia a entrevista de Márcio Maranhão para a Revista Medicina.